Um dia desses, estava
chegando no prédio onde trabalho e logo no saguão avisto dois jovens conversando sobre profissões.
Eu, enquanto aguardava o elevador, que mais
parecia inexistente de tão lerdo, ouvia o garoto perguntando pra garota, o que
ela queria cursar na faculdade, já que este ano prestariam vestibular.
Ela
dizia que ainda não sabia, mas que pensava em Ciências Biológicas,
Administração ou Jornalismo. Para justificar a última opção, ela havia dito que
"gostava muito de falar", por isso acreditava que jornalismo seria uma
boa.
E
na minha cabeça, ávida pelo questionamento, queria saber de onde havia
saido uma resposta tão injustificável para a escolha que ela considerava
acertada.
Por
sorte o elevador chegou e eu entrei fumegante, sendo que a vontade maior era
ter ficado para ouvir o desenrolar da história.
Penso
eu que todo motivo que nos leva pela primeira vez a uma carteira de
curso superior é errado. Antes da estréia acadêmica,
é impossível saber se aquilo é o que realmente queremos para a vida.
O que me admirou, acima de tudo na conversa acima transcrita, era
a discrepância entre as áreas escolhidas pela menina. Logo, ela
poderia ter dito que queria fazer qualquer coisa, já que a dúvida parecia ter
permanecido com ela. Mas não tem jeito, todo jornalista que se preza fica muito
azedo quando ouve alguém dizer que quer seguir a profissão porque "Fala
muito". Porra, o Tite deveria ser Jornalista então.
Jornalismo
em essência é mais ouvir do que falar. Acho que essa imagem vem por causa dos
locutores de rádio ou dos ancoras de telejornal. Mas o engraçado é que, para as
duas carreiras que citei, eles não falam muito, eles reproduzem muito. Quem
fala muito é flanelinha, tentando convencer que guardar o carro com ele é um
bom negócio. Vendedor fala muito, que é pra convencer o consumidor que o
produto que ele tem é melhor que o encontrado em outros estabelecimentos.
Feirante fala muito também, porque não pode levar mercadoria pra casa porque
certamente vai estragar. O cara da Tecpix fala demais, opa, mas esse fala
porque é chato mesmo.
Eu não sei dizer exatamente porque escolhi Jornalismo para a vida, mas como prefiro
dizer, ele quem me escolheu. No começo foi tudo incrível, era um jogo de
descobertas que eu nunca havia sentido. Mas depois fui despontando, isso é
aptidão, não opção.
Mas
isso também é mutável. Como disse, entrei na Faculdade de Jornalismo porque Ciências sociais não tinha na minha cidade. Gostava de política, de escrever, de debater e queria algo que me colocasse no trilho. Primeiro semestre foi aquela paixão, realmente Jornalismo atendia minha ânsia profissional. Destino futuro era Brasília, caminho
definido desde o vestibular. Depois de um, dois, três anos fui descobrindo que
mudar é a parte mais saudável do processo de formação. Hoje eu aprendi a vivenciar os setores da comunicação e gostar mais deles. Hoje o mundo multimídia agrada mais ao meu currículo do que especular um sistema já falido. Ainda prefiro o impresso, mas não pra ser repórter, pra ser
Ombudsman, responsabilidade dobra. E nisso, Brasilia foi ficando longe, mas o mundo se aproximou.
Não quero viver de microfone porque eu
"falo muito", quero viver de internet porque "amplia muito".
Entende?
Ficar
entre Biológicas, Administração e Jornalismo, não é o mesmo que ficar entre
Comunicação, Áudio Visual e Relações públicas. É preciso que as áreas comunguem
entre si. Não é possível que você esteja em dúvida quanto ao que realmente
gosta. Ou será que estou falando muito?
@gi_cabral
é aspirante a muita coisa e é sarna na maioria das vezes (pelo menos para o que diz respeito a profissão).
Gi, fala muito! E fala bonito.
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