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quarta-feira, 8 de agosto de 2012

"Hoje eu percebi que venho me apegando às coisas velhas. O que é isso, meu amor? 
Será que eu vou virar bolor?"
Bolor - Arnaldo Baptista


Minha avó tem mania de guardar coisas velhas. Um prato de plástico que já está trincado, uma poltrona de um antigo estofado que fica ali no canto de um dos quartos, uma colher (de nem sei que ano) que destoa das demais peças do faqueiro, uma taça de vinho que fica escondida no armário sem uso para fins etílicos.
Uma vez questionei o porquê de tantas coisas velhas, detalhes não jogados fora, do armário de madeira pintado (e desbotado) de vermelho, da antiga máquina de costura e da lamparina pendurada no alto da parede. Por que tanta coisa acumulada e sem uso? Por que essa velharia de um canto a outro da casa que também é antiga? Por que, hein vó?
Ela serenamente olhou e falou sobre uma das peças: "Sabe essa panela que está no fogão? Eu ganhei do seu tio mais velho quando ele tinha 15 anos. Ela tem material bom, não é como as outras. Ela 'atura' muito mais". 
Foi nessa hora que entendi que apesar de ganhar tantos outros conjuntos de panelas, estas foram mais descartáveis que úteis. Foi ai que eu pude recordar que ela se emociona chora mais quando uma xícara que ela tem há mais de 20 anos quebra, do que quando ganha outras seis novas. Que ela usa sempre as mesmas toalhas de mesa, mesmo tendo trocado de mesa várias vezes. Que a ordem dos elementos da casa sofrera poucas alterações ao longo dos anos.
Foi deste modo simples que reparei que o que é bom dura, o que é de qualidade resiste e o que é humilde, mantem-se humilde.
        No alto de 73 anos, aquela senhorinha fez com que eu prestasse atenção nestes detalhes tão importantes pra ela, tanto que isso me renderia muito mais que uma reflexão, me renderia uma lição.
Ela continua guardando coisas velhas e mesmo achando que eu não seja tão boa pessoa, apesar de ter comigo todos os valores dela, apoio esse direito de segurar com todas as forças as velhas coisas que a fazem bem. Deve ser por isso que ela tem me mantido em casa também. Deve ser...

@gi_cabral é velha mas adora coisas novas também. Saudosista e fiel a recordações que ninguém entende. 


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