Sobre o imediatismo que faz bem

            Este ano eu vou te dar um presente. Pode ser um chocolate na páscoa, uma rodada de chopp no happy hour de sexta-feira, um whisky 18 anos no aniversário ou até, quem sabe, um vinho no natal. Eu vou te dar um presente porque não sei se vou passar uma data como essa com você no próximo ano.

                                                           É só uma lembrancinha...

Não, essa não é uma mensagem (a.k.a) testamento. É só um jeito de dizer que quero passar por essa experiência de te dar um presente com ou sem motivo, porque eu realmente posso morrer amanhã, você pode morrer amanhã, o dono da loja em que eu queria comprar o artefato pode falir, ou se mudar, ou simplesmente não querer mais ser comerciante e eliminar para sempre o meu sonho de te dar aquele abajur lindo que ficaria perfeito na sua sala.

Aquele mesmo que você vai acender para ler tantos outros textos meus, onde eu tento filosofar sobre as coisas que ainda nem conheço e talvez nem vá conhecer. Ou talvez você não possa ler ou eu não tenha dinheiro pra comprar papel, caneta ou simplesmente pagar a conta da internet pra te enviar um pdf. 

Eu quero passar esta páscoa/aniversário/diadoorgulhonerd/conciêncianegra com você porque talvez eu vá aprender um novo idioma em outro país e acabe passando mais tempo lá do que eu gostaria. Talvez você faça um retiro espiritual, aquela sonhada visita a um local sem acesso ao wi-fi, ou talvez eu vá fazer aquele mestrado fora da cidade e no dia “D” acabamos por não poder trocar mais do que duas linhas numa mensagem de texto que certamente chegará com atraso e sem emoção.

Eu só sei que eu não quero ir à sua festa de aniversário ano que vem, por que eu quero ir nessa. Eu só sei que não posso deixar você comer o chocolate com ganache no próximo ano. Você tem que comer este ano. Só sei que não quero ter que te pagar um chopp semana que vem, porque eu quero beber agora. Eu não quero te dar um vinho, abajur ou uma passagem para você ir me visitar onde quer que eu esteja morando. Eu quero ver você ganhando tudo isso e me dando um sorriso de volta, mas tem que ser já.

Eu só preciso que você saiba que eu ainda estou aqui escrevendo sobre o que eu queria viver, mesmo sem saber se a vida queria escrever comigo ou se há vida no que eu escrevo.

Eu só quero que hoje seja hoje, e que na próxima data, haja um hoje pra gente aproveitar.

@gi_cabral sempre acreditou que jornal de ontem é notícia de anteontem e por isso prefere o instantâneo.