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segunda-feira, 26 de novembro de 2012


Um dia me disseram que eu era poetisa. Eu sorri e aceitei aquelas palavras como se fossem as melhores do mundo. Mas como dita apaixonada pela literatura através dos tempos, parei para verificar o perfil de alguns poetas que já tiveram seu nome gravado na história.
Boa parte deles, pra não generalizar, tinha algo em comum: a amargura pela não edificação de seus sonhos. Engraçado pensar que todos os textos que gosto ou com algum grau de relevância, possuem um ‘quê’ de catástrofe sentimental. E não preciso de muitos requisitos pra dizer que a decepção sempre rendeu os melhores textos de amor que já se tiveram noticia.
Nem toda cor, nem todo amor, nem toda vida...

Outro ponto em comum é que, muitos destes escritores morreram jovens, e alguns, de maneira trágica. Muitos tiveram seus textos perdidos, continuações de obras que nunca seriam encontradas, musas inspiradoras que nunca chegariam a colocar os olhos nas cartas de amor. A única diferença que encontro dos poetas antigos para os novos é que eles tiveram apenas um amor durante a vida. Uma só musa inspiradora, um só rosto, apenas um marcante e profundo par de olhos que lágrimas verteram por uma falha de correspondência.
Nós não. Vez ou outra temos quem nos tire a completa razão no entendimento de nossas próprias cargas emocionais. Tantos olhos, tantos rostos, tantas inspirações que passam e se vão como quem tivesse mais o que fazer com um outro aspirante a poeta, que certamente provocariam inspirações também não lidas. A decepção continua a render as melhores obras e os melhores registros, estes que nunca precisarão ser escondidos, ou que nunca terão uma continuação que será perdida em algum baú de navio naufragado.
A taxa de vida também aumentou de uns tempos pra cá. Poetas do Romantismo e Humanismo que viveram até os 24 anos de idade, nunca poderiam prever que aos 24 anos de hoje, não teriam bagagem suficiente para escrever tão belos conjuntos de palavras, sonetos, quadrinhas e anedotas. Ainda seriam inexperientes frente aos demais cidadãos do mundo. Pela pouca idade seriam considerados meros aspirantes inconseqüentes a uma cadeira na academia Brasileira de letras.

...nem todo papel, nem toda palavra, nem toda emoção serão suficientes.

Algumas coisas mudaram, outras nem tanto. O amor, a paixão e a admiração continuam rendendo bons textos. A decepção, a amargura e os desencontros  continuam rendendo os melhores. Quem é feliz não tem tempo de escrever sobre a felicidade, porque esta implicitamente não pede um registro. Há quem diga que os que não estão à margem do amor serão eternos poetas que rabiscam versos em guardanapos.  Aqueles poetas que terão idade avançada, muitos amores e muito ainda a descobrir sobre a própria trajetória. Estes mesmos que ainda viverão muito para se decepcionar, e continuar a galgar aquele elogio que nem todos podem ouvir: “é uma poetisa, não?”.

@gi_cabral tem a alma velha e vez ou outra distribui palavras entre as catástrofes emocionais que ainda não viveu. Serais ce possible alors? 

3 comentários:

  1. Tuas palavras me lembraram de um pensamento que tive dia desses. É exatamente isso. Como ficam lindas e profundas nossas palavras quando sofremos, quão verdadeiros e intensos tornar-se nossos rabiscos. A suspirar rendemos tufos de papel com um amontoado de material riquíssimo...

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    1. Acho bacana a idéia de tentar tirar o melhor da situação ruim. Acho que o otimismo da gente vive disso. Escrever sobre o que é bom é uma coisa que devemos exercitar diariamente (mas não é fácil). rs :)

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  2. É como vc disse: Quem é feliz não tem tempo de escrever sobre a felicidade...
    Não que ela não seja inspiradora e também não gere bons frutos. Acredito que par quem saiba usá-la como uma fonte de inspiração, isso pode ser a chave para muitas ideias incríveis.
    Entendo uso da melancolia como fonte de inspiração mas particularmente não a desfuto. Sou alguém muito mais criativo na alegria (quando estou bem espiritualmente) do que quando tudo vai mau...

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